quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Onde eu estava com a cabeça?


Foto: resgatar.blogspot.com

- Então é isso? - perguntou José.

- Sim, meu filho - respondeu o porteiro do céu. - Infelizmente, é isso mesmo.

- Deixe-me ver se entendi... Estou há dois dias na fila para entrar no céu e o senhor está me dizendo que eu peguei a fila errada. É isso mesmo?

O porteiro do céu estampou um sorriso angelical no rosto. Em seguida, respondeu:

- Perdoe-me filho, mas consta no sistema que você deveria ter se dirigido ao limbo.

- Então vocês têm um sistema? - voltou a perguntar José, de forma visivelmente irônica.

- Exatamente. Mas parece que tivemos uma falha operacional.

- E o limbo? - aventou José.

- O que tem ele?

- Ele não havia sido extinto por decreto papal?

Sem titubear, o porteiro soltou uma gargalhada.

- Gabriel! - gritou o porteiro. - Venha aqui! Que lhe mostrar uma coisa...

- O que foi, irmão? - indagou Gabriel, o anjo.

Ainda com um sorriso incontido, o porteiro ordenou a José:

- Repita a pergunta!

José fico desconfiado. Achou que estavam rindo da sua cara. Mas, como não tinha nada a perder a não ser a alma, resolveu ariscar:

- O limbo não foi extinto por decreto papal?

Mais uma vez o porteiro caiu na gargalhada. Desta vez, contudo, seguido por Gabriel e pelos outros anjos que se amontoavam sobre a entrada do céu. Aquele postulante a uma vaga no paraíso era um verdadeiro fanfarrão.

- C-H-E-G-A! - gritou José!

O grito de José ressoou sobre o céu e ganhou a terra sob a forma de trovão. Todas as 37.000 pessoas que aguardavam na fila calaram-se, assim como o porteiro e os anjos.

- Eu quero falar com o seu supervisor agora mesmo! - disse José. - Agora mesmo!

- Veja bem, senhor... Não procedemos desta forma aqui no céu, já que...

- Não quero saber - interrompeu-lhe José. - Eu quero falar com o seu supervisor!

- Que assim seja... - disse o porteiro, antes de abrir os portões do céu e fazer um gesto para que José entrasse.

Com o peito estufado, José adentrou no paraíso.

Logo viu uma placa informando que a diretoria estava localizada à esquerda. Resolveu ir até lá.

Já na entrada, viu uma porta entreaberta. No fundo da sala, sentado junto a uma mesa repleta de folhas e carimbos, havia um homem barbudo. Era a exata imagem de Deus.

- Só pode ser ele... - ponderou.

- O que você quer, meu filho? - perguntou-lhe o homem barbudo.

- Deus, é você?

- Sim, meu filho, sou eu mesmo. O que você quer, afinal?

- Eu quero uma vaga no paraíso. Nada mais! - disparou.

Deus olhou sério para seu filho. Em seguida, coçou sua longa barba branca e disse:

- Vou lhe fazer uma pergunta bem simples. Mas advirto-lhe que seu futuro depende dela.

- Ótimo! Pode perguntar!

- Quando vivo, qual era a sua banda favorita? - perguntou-lhe Deus, enfim.

- Calypso - respondeu José. - Por quê?

Deus, então, apertou um botão vermelho que havia embaixo de sua mesa e um alçapão abriu-se sob os pés de José, fazendo com que este escorregasse diretamente para o inferno.

- Onde eu estava com a cabeça quando inventei o livre-arbítrio? - perguntou-se Deus em voz alta.
- Onde eu estava com a cabeça...

2 comentários:

Marco disse...

hehee... ótimo texto. concordo com o aperto do botão hehe
no entanto, discordo de uma coisa:
37 mil pessoas? acho que é muito para entrada no céu, tendo em vista que a arapuca bíblica é bem armada. 10 mandamentos+livre-arbítrio=inferno.
creio que a fila seria beem menor hehehe

abraço!!

Por Trás das Letras disse...

uahauahauaha A-D-O-R-E-I
muito justo.

xD

Dani - PTDL