quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Assassino de ocasião

Foto: http://arymoura.wordpress.com

O que foi que eu fiz? - foi a primeira pergunta que Rafael se fez assim que encostou o carro no acostamento.

A grande quantidade de fumaça que saía por debaixo do capô do veículo, que ainda se encontrava ligado, era um lembrete de que havia acabado de fazer algo errado.

Um único segundo de desatenção foi o suficiente para que atropelasse algo que atravessara a estrada alguns segundos antes.

Fora tudo muito rápido. Tanto que não viu absolutamente nada, apenas sentiu um solavanco.

Temeroso pelo que encontraria ao sair do carro, Rafael respirou fundo. 

Após desligar o motor, abriu o porta-malas e pegou uma lanterna que mantinha junto ao pneu reserva, a qual só acendeu após uma dúzia de tapas.

Iluminou a frente do carro e percebeu que a lanterna do lado do caroneiro estava quebrada. A lataria, igualmente, estava bastante amassada. Concluiu que deveria ter batido em algo grande. Algo definitivamente sólido.

Receoso pelo que o aguardava, Rafael caminhou lentamente até a parte traseira do carro. Pelo força do impacto, pensou que poderia ter atropelado algum animal. Somente depois de caminhar uns vinte metros que conseguiu vislumbrar o maior dos seus problemas.

- Caralho! - disse para si mesmo em voz alta.

Envolta em uma poça de sangue, havia uma pessoa estirada no chão. Estava bem no canto da estrada e visivelmente machucada. Deu mais dois passos em direção ao corpo e constatou que se tratava de alguém do sexo masculino.

Sem saber o que fazer, Rafael levou as duas mãos à cabeça. Precisava tomar alguma atitude.

- Senhor! - gritou, quase gago. - O senhor está bem? Senhor?

Gritou mais algumas vezes, e à medida que suas perguntas não eram respondidas, uma sensação de pânico tomou conta de seu corpo. Não precisava ser médico para ver que o sujeito estava morto.

Precisava acalmar-se. Então, respirou fundo, olhou mais uma vez para o corpo e caminhou em sua direção. Lembrou-se dos filmes, em que as pessoas sempre colocam a mão no pescoço para medir a pulsação e fez o mesmo. Estava realmente morto, embora o corpo ainda estivesse quente.

- Meu Deus, o que foi que eu fiz? - tornou a se perguntar em voz alta.

Imediatamente, pensou em ligar para a polícia. Mas foi só olhar para o display do celular e ver os números turvos para lembrar-se de que havia bebido demais naquela noite.

Se fizesse bafômetro naquelas circunstâncias, sairia dali algemado. Sabia que, ao dirigir sob a influência de álcool, havia assumido o risco de cometer um crime, o suficiente para que seu medo tomasse proporções impensadas.

Aparvalhado com a possibilidade de ser preso, tomou enfim uma atitude. Com toda força que lhe restava, arrastou o homem pelos braços até seu carro. Aqueles poucos metros pareciam muitos; nada que a teoria da relatividade não explique.

Imaginou que se algum adolescente abusado resolvesse filmar tudo com a câmera do seu celular, seria o seu fim. Uma coisa é atropelar alguém e pedir socorro. Outra, bem diferente, é atropelar alguém e esconder este alguém dentro do porta-malas do carro.

Levantou o homem com certa dificuldade e escorou suas costas na entrada da mala do veículo. Com a ajuda da luz pôde ver melhor seu rosto. Aquele homem, cuja idade era visivelmente avançada, definitivamente tinha cara de "zé".

Rafael achou que ficaria mais assustado ao ver o rosto do homem que havia atropelado, haja vista que não possuía muita familiaridade com cadáveres. Porém, sentiu-se estranhamente calmo ao descobrir a face de sua vítima.

Sua barba era cinza e grande. Parecia mais um desses aspirante ao cargo de papai noel. Teve vontade de rir. Afinal, matar o papai noel seria algo relativamente muito engraçado.

Após analisar detidamente seu corpo, tratou de empurrar seus pés para dentro e fechar o porta-malas. Ato contínuo, pegou uma flanela e limpou o sangue que havia escorrido sobre o pára-choque traseiro.

Após, entrou no carro, ligou o motor e arrancou bruscamente

Havia começado sua corrida contra o tempo.

sábado, 17 de novembro de 2012

Te quero...

http://leandrons.blogspot.com.br

Carlos Alberto tinha uma teoria um tanto ousada quando o assunto era conquistar mulheres.

Vivia dizendo para os amigos que havia descoberto o plano perfeito, embora nunca tivesse colocado-o em prática.

Sua teoria consistia, basicamente, em chegar no ouvido da mulher que pretendia conquistar e dizer aquelas que considerava as suas palavras mágicas.

Argumentava que as palavras em questão teriam um efeito impactante sobre toda e qualquer mulher, uma vez que criariam uma reação química capaz de deixá-lo irresistível.

Os amigos, claro, achavam tudo uma grande bobagem, sobretudo pelo fato de que as palavras mágicas eram "te quero".

Diziam para Carlos Alberto, aos risos, que ele levaria um tapa na cara na primeira vez que falasse isso para uma mulher.

Até que um dia, no auge da bebedeira, os amigos desafiaram Carlos Alberto a colocar em prática seu plano heterodoxo. Queriam provar para o amigo que o aludido plano só funcionava no plano teórico.

- Escolham qualquer mulher - disse Carlos Alberto. - Q-U-A-L-Q-U- E-R mulher!

Os amigos, prontamente, escolherem Mariana como alvo, uma colega de trabalho de Carlos inacreditavelmente linda e igualmente inalcançável.

Para surpresa de todos, Carlos Alberto topou o desafio, dizendo que no dia seguinte conquistaria sua colega somente com o auxílio de suas palavras mágicas.

No outro dia, já na parte da tarde, Carlos Alberto viu Mariana indo em direção ao elevador e julgou que aquela seria a oportunidade perfeita para colocar seu plano em ação.

Quando estavam apenas os dois dentro do elevador, preparou-se para o ataque.

Enfim, num movimento sorrateiro, recostou sua boca no ouvido esquerdo de Mariana e, com a voz mais aveludada possível, disse:

- Te quero...

Foi um "te quero" arrastado e libidinoso, o suficiente para que os pelos da nuca de Mariana ficassem arrepiados. 

Ela, porém, virou-se para trás assustada. Em seguida, gritou:

- Você está louco? Qual é o seu problema?

Carlos, ainda seguindo seu plano, apenas sorriu. Ato contínuo, lançou-lhe um olhar enigmático.

Sua bela colega de trabalho, contudo, como quem não entende nada, olhou incrédula para Carlos Alberto. E após ameaçar denunciá-lo ao chefe, saiu correndo do elevador.

À noite, quando contou aos amigos, todos, invariavelmente, caíram na gargalhada. Debocharam de Carlos Alberto e de seu plano nada infalível o máximo possível nas semanas que se sucederam ao ocorrido.

Cerca de oito semanas depois, no entanto, Carlos foi surpreendido com uma mensagem de Mariana, cujo conteúdo dizia: "Preciso falar contigo. Me encontre na cafeteria da esquina, agora".

Obediente, mas um tanto temeroso, dirigiu-se até o local programado. Lá chegando, deparou-se com sua colega aos prantos.

Mariana, sem meias palavras, disse a Carlos Alberto que, desde o evento do elevador, não conseguia pensar em outra coisa senão nele.

Disse-lhe, ainda, numa franqueza sem precedentes, que suas palavras haviam lhe despertado um sentimento transcendental. E que tudo que almejava naquele momento era deixar-se possuir por ele.

Carlos Alberto sorriu. Seu plano havia funcionado.

Dali, foram direto para o motel mais próximo e tiveram a tarde mais incrível de todas.

Carlos, claro, reuniu os amigos algumas horas depois para contar a novidade. Mas foi só terminar de relatar o que havia lhe acontecido algumas horas atrás para que todos caíssem na gargalhada. 

Ninguém acreditou que o plano do amigo havia funcionado de verdade. Ninguém.

- Conta outra, Carlos Alberto - diziam os amigos. - Conta outra...

sábado, 27 de outubro de 2012

Mulher quase fatal

Foto: http://www.sofrescuras.com

Quando acordou naquela manhã de quinta, Fernando não fazia ideia de que sua vida estava prestes a virar de pernas para o ar.

Foi perto das 16 horas quando o pior aconteceu, para ser mais exato.

Fernando estava junto à sua mesa quando viu uma indescritível mulher entrar no corredor que dava acesso aos escritórios da empresa em que trabalhava.

Sua primeira reação foi levantar-se e achar uma desculpa para falar com a criatura mais espetacular que já havia avistado em sua vida até então.

Mas tão logo se aproximou daquela incrível mulher, cujo nome era Helena, sentiu uma sensação estranha tomar-lhe o corpo.

Simplesmente apagou após sentir sua boca repuxar para o lado esquerdo.

Foi o princípio do inferno que sua vida se transformou e que durou cerca de três anos.

O piripaque ocasionado por Helena, ou melhor, pela beleza desta, o fez se submeter a fisioterapia, ser atendido por psicólogos e ingerir uma gama de remédios.

Até que, finalmente, recuperou sua saúde por completo.

Contudo, mesmo doente, tudo que fez no decorrer desse tempo em que se submeteu aos mais variados tratamentos foi pensar naquela estonteante mulher que nunca mais ouviu falar.

Queria descobrir o porquê de ter ficado tão mal. O porquê de ter quase morrido.

Decidiu que deveria procurá-la

Então, após algumas tentativas frustradas, finalmente consegui localizá-la. Helena era gerente de uma loja nem tão distante assim de seu trabalho.

No entanto, assim que avistou a responsável pela sua desgraça, ficou um pouco frustrado. Estranhamente, Helena não era tão bela quanto lembrava.

Mesmo assim, achou que deveria ir ao seu encontro. Algo naquela mulher o intrigava

Mas foi só chegar perto de Helena para sentir sua boca repuxar para o lado esquerdo.

Naquele momento, soube que iria começar tudo de novo.

Que teria que esperar mais três anos para encontrá-la novamente.

Mais três longos anos...

sábado, 13 de outubro de 2012

À procura do amor impossível

Foto: http://www.la506.com


João Pedro era um cara relativamente normal e E-X-T-R-E-M-A-M-E-N-T-E simpático.

Nada demais aos olhos do público masculino.

Ninguém sabia o motivo pelo qual isto acontecia, mas mulheres jogavam-se sobre ele de forma deliberada e irracional. Com afinco talvez fosse a expressão mais apropriada.

Alguma coisa naquele homem as atraía.

Talvez fosse o seu jeito "dadinho" (simpático), ou sua cara de vira-latas, não se sabe ao certo, mas algo definitivamente as atraía. Uma incógnita.

JP - como era conhecido -, no entanto, era um amante platônico. Nem mais, nem menos.

Por mais belas que fossem as mulheres que a vida insistia em lhe arranjar - e olha que eram aos montes -, João Pedro estava sempre à procura de um grande amor; desde que fosse impossível, claro.

E essa eterna procura pela mulher inalcançável acabava afastando as demais, naturalmente imperfeitas aos seus olhos. 

Seus amigos, claro, praticamente o odiavam por isso. Afinal, todos achavam um absurdo João Pedro desperdiçar tantas mulheres, que de imperfeitas não tinham nada.

Até que um dia, cansado de não conseguir conquistar a mulher dos seus sonhos, JP resolveu finalmente dar ouvido aos amigos.

Disse para si mesmo, como somente um cafajeste pode fazer, que iria galinhar por algum tempo. Talvez assim sua sorte mudasse.

E promessa era dívida para João. Tanto que arrasou inúmeros corações nos seis meses que se sucederam ao aludido compromisso.

Só não arrasou mais corações que o seu próprio.

Isso porque, para desespero particular dos amigos, não se interessou por nenhuma das garotas com quem saiu naquele período.

Definitivamente, João não conseguia lutar contra sua própria natureza. Contra sua fome de tentar conquistar o inconquistável. 

Queria se apaixonar de forma platônica, e sofrer por isso

E desejar mulheres possíveis, sob esse prisma em particular, não se mostrava uma boa opção.

A verdade é que a vida sabe ser dura ao ponto de nem sempre nos proporcionar aquilo que realmente queremos.

João que o diga.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Jonas, o apaixonado.

http://2.bp.blogspot.com

Jonas era FISSURADO em sua chefe. Arrastava não só um caminhão por ela, mas um frota inteira.

Já havia pensado diversas vezes em se declarar, mas sempre desistia antes mesmo de tentar.

No mínimo, acaso não fosse correspondido, perderia o seu emprego.

A forma que tinha de agradar a chefe - recheada de terceiras intenções, claro - era trabalhar mais que os outros funcionários.

Doava-se ao emprego como ninguém. Tudo por amor, por um amor platônico e silente.

Numa quarta-feira pela manhã, contudo, viu sua sorte mudar.

Ana, sua chefe, adentrou em sua sala com um olhar diferente, insinuante. Sem rodeios, parou ao seu lado e disse-lhe com a voz o mais aveludada possível:

- Passa lá em casa hoje à noite, às 20h... Hoje é o teu dia de sorte.

Em seguida, virou-se nos seus saltos altos e foi embora com um andar nada vacilante.

Jonas sentiu seu corpo estremecer. Não conseguia acreditar naquilo que acabara de ouvir.

Finalmente, todo seu esforço haveria de ser recompensado. Afinal, estava há apenas algumas horas de possuir a mais incrível das mulheres - a bela e irretocável Ana.

Ana, no auge dos seus 30 anos, tinha pernas compridas e pra lá de delineadas. Estas, somadas aos seus cabelos louros e cacheados, conferiam-lhe um visual arrasador.

Tanto que Jonas não era o único a desejá-la com ardor. Pelo contrário, na empresa onde trabalhava, a exceção era não desejá-la, tal seu poder de sedução.

Talvez por isso Jonas não aguentava mais esperar pela noite que se aproximava. Ele precisava daquela mulher, e como precisava. Até porque havia trabalhado muito para isso, literalmente.

À medida que as horas passavam, no entanto, Jonas foi ficando cada vez mais nervoso. A beleza e o charme em excesso de sua chefe intimidavam quem fosse.

Engoliu em seco pela primeira vez quando viu sua chefe ir embora duas horas antes do habitual. Tão-logo ela saiu pela porta do escritório, recebeu uma mensagem em seu celular, cujo texto dizia:

"Não se esqueça do nosso jantar... Prometo-lhe uma noite mágica. Beijos, Ana".

Jonas sorriu. E depois estremeceu. E voltou a sorrir. E tornou a estremecer.

Passado o susto, foi correndo para casa aprumar-se para a janta de logo mais. Precisava corresponder às expectativas.

Com o intuito de impressioná-la, vestiu sua melhor calça, sua melhor camisa, seu melhor perfume, a melhor versão do seu eu.

Bateu à porta da casa de Ana na hora marcada. Sabia que havia chegado, enfim, o seu grande momento.

Sua chefe - como se fosse possível - estava ainda mais estonteante que o normal.

Meus deus... - pensou Jonas assim que a viu.

- Entre - disse ela com uma voz de felina.

Jonas entrou a passos firmes. Em segundos, o nervosismo deu lugar à confiança. Afinal, aquela era a sua noite, e de mais ninguém.

Beberam vinho e conversaram, não necessariamente nesta mesma ordem.

Até que Ana levantou-se e disse-lhe:

- Chamei você aqui para lhe dar uma coisa... Aquilo que você está perseguindo incansavelmente há alguns meses - completou.

Jonas engoliu em seco pela segunda vez naquele dia. Quando fez menção em dizer algo, foi interrompido por sua chefe, que ordenou:

- Não fale nada, apenas observe...

Naquela fração de segundo, Jonas imaginou Ana levando suas mãos às costas e tirando o vestido...

Sua chefe, contudo, com um leve sorriso no rosto, limitou-se a jogar uma pasta sobre a mesa de centro.

Nada de vestindo caindo, nada de ter Ana em seus bracos, enfim, nada do que Jonas havia imaginado.

- O que é isso? - perguntou enquanto apontava para a pasta.

- A promoção que você tanto queria... - respondeu Ana. - Finalmente, todo seu trabalho está sendo recompensado - completou ela, feliz.

Jonas respirou fundo.

- Então era isso? - perguntou ele. - Uma promoção?

- Claro! - respondeu Ana, empolgada. - O que mais poderia ser?

Sem dizer uma única palavra, Jonas pegou suas chaves e foi embora em silêncio.

Já na rua, Jonas não parava de repetir para si mesmo em voz alta:

- Uma promoção?! Que absurdo! Que absurdo...

sábado, 22 de setembro de 2012

A iminência da morte

Foto: http://misteriosfantasticos.blogspot.com.br

A ideia da mortalidade em si é assustadora. Sempre foi.

Convenhamos que é difícil aceitar que um dia as pessoas que amamos partirão desta vida. Se é que já não partiram. 

Ou o fato de que nós mesmos, um dia, também alcançaremos a finitude...

A morte, por mais triste que seja, alcança a tudo e a todos de uma hora para outra, sem qualquer distinção. 

E é justamente isso que deixa tudo muito mais assustador.

De repente, numa terça-feira chuvosa qualquer, você se engasga com uma empada e parte desta vida de inopino.

Por que eu? - perguntará você à Morte.

Por que não? - responderá ela com um sorriso de Monalisa estampado nos lábios.

Por mais paradoxal que pareça, morrer faz parte da vida.

Vivo, logo morrerei.

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Sempre pensei que a iminência da morte deveria nos fazer viver com mais ímpeto, mais intensidade. Mas sabemos que não é bem assim que as coisas funcionam.

Enterros, por exemplo, são o termômetro perfeito. Afinal, quem nunca se colocou no lugar do falecido e perguntou para si mesmo de forma silenciosa: E se tivesse sido eu?


A verdade é que a morte nos cerca por todos os lados. Basta um deslize e capluft, lá se foi mais uma vida.


A questão é: sua vida está valendo a pena?

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Dias atrás, fui ao enterro do avô da minha esposa.

Muito embora todos tenham ficado tristes, senti algo diferente no ar. Uma sensação de leveza difícil de descrever.

É que morrer cedo sempre foi e sempre será algo deveras triste. Já, morrer tarde, talvez.

As pessoas que o cercam sabem quando você viveu com dignidade e, mais do que tudo, se você aproveitou a vida a contento.

E, quando isso acontece, a morte soa mais como uma despedida temporária do que como um adeus.

Foi o que senti naquele dia. 

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Não podemos mudar a condição morte, mas podemos mudar todo o resto. Só depende de nós e do tempo que nos resta.

Lembre-se: a Dona Morte pode bater à sua porta a qualquer momento. Então, faça valer a pena.

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Alguém está tocando a campainha neste exato momento... Desejem-me sorte (risos).

Aquele abraço.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Olhos artificiais


Sinto saudade de quando meus olhos funcionavam a todo vapor sem qualquer auxílio artificial.

Da época em que não precisava de um par de lentes para fazer coisas simples como ler as legendas de um filme qualquer.

Ou de recostar a cabeça sobre o braço do sofá sem ter que me preocupar em entortar uma armação que praticamente se tornou uma extensão do meu corpo, do meu ser.

Tanto que alguns dias atrás acabei entrando debaixo do chuveiro ainda com as lentes em frente aos olhos.

Algo bizarro e, convenhamos, deveras engraçado.

Para falar a verdade, nem lembro mais de como era quando ainda tinha a visão perfeita, de quando achava que enxergava tal qual um falcão, e olha que não faz tanto tempo assim que comecei a usar óculos.

O pior de tudo é essa dependência dos óculos. Sem exagero, é o primeiro objeto que procuro logo que acordo e o último que dispo quando vou deitar.

É um tanto surreal depender de um utensílio criado exclusivamente para fazê-lo enxergar melhor.

Outra coisa ruim são as situações embaraçosas que nossos óculos nos colocam quando não os usamos.

Sempre que vou à academia, por exemplo, acabo confundindo as pessoas por não conseguir enxergar seus rostos a ponto de identificá-las.

Não raro, passo por mal educado, esquecido, mala, metido etc.

Confesso que não gosto dessas situações, mas as aceito com mais naturalidade do que há alguns anos atrás. É como se fosse um preço pequeno a pagar por voltar a enxergar a contento novamente.

No fim das contas, os óculos não são o inimigo, mas a salvação. 

Mais um aliado nesta vida em que enxergar é preciso.

sábado, 25 de agosto de 2012

Esqueça seus interesses por um instante



Estou farto de ver pessoas querendo nos ensinar a votar.

Tudo que vejo é bláblábláblá.

Ocorre que muitas dessas pessoas, ainda que de uma forma velada, também estão trocando seu voto por alguma espécie de valor/favor/interesse.

O ser humano, por natureza, costuma pensar apenas em si. Essa é a mais pura verdade.

Esse papo de que devemos pensar na sociedade é muito bonito na teoria. Na prática, contudo, as coisas são exponencialmente diferentes.

Eu sei disso, você sabe, todos sabemos disso.

Então, o que podemos fazer para mudar esse cenário trágico?

Na verdade, é simples. Basta que paremos de nos comportar como cidadãos teóricos. E, acima de tudo, precisamos de frieza na hora do voto.

Pode parecer difícil, mas tente esquecer seus interesses pessoais na hora de apertar o botão.

Logo, não vote em amigos, pessoas que o ajudaram, familiares, pessoas que lhe prometeram qualquer tipo de favor, parasitas de todo gênero etc.

Vote, isso sim, em uma pessoa esclarecida, cujas aptidões incluem a capacidade de ajudar seu Município de alguma forma.

A regra principal é: não vote pensando em si, mas na coletividade. No bem geral da nação, para não fugir dos bordões.

Acreditem ou não, o voto serve para isso.

Parece simples, certo?

Não parece, é. 

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Voltando a correr!


Foto: http://4.bp.blogspot.com/

Depois de aproximadamente um ano longe da academia, resolvi voltar. Simples assim.

Em resumo, corri uns cinquenta minutos na segunda, e outros cinquenta na terça.

Hoje, estou praticamente quebrado. Dilacerado. Morto. 

Como se não bastasse, tenho que encarar futebol hoje à noite e mais cinquenta minutinhos de corrida amanhã, para fechar o ciclo de três vezes por semana.

Parece coisa de louco, certo?

Errado.

Foi só começar a correr para, já nos primeiros minutos, perguntar-me mentalmente o porquê de ter ficado tanto tempo sem praticar esse esporte tão incrível.

A corrida - o mais democrático dos esportes -, acreditem, traz uma sensação de paz sem igual. É mais ou menos como se os problemas ficassem para trás a cada passada.

No mais, os benefícios inerentes ao ato de correr são imediatos

A verdade é que seu corpo responde de forma rápida e eficiente, tanto na perda de peso quanto no chamado preparo físico.

Sem falar da dose cavalar de endorfina liberada pelo corpo após o exercício. 

Pode parecer meio bizarro, mas quase posso sentir a endorfina tomando meu corpo de assalto

Praticamente um vício do bem.

Mas e o cansaço?

É passageiro. 

Bastam duas semanas para os efeitos colaterais, dentre eles a famosa preguiça, saírem do seu corpo, em silêncio, pela porta dos fundos.

O que importa, no fim das contas, são os benefícios que esse ou aquele exercício proporciona à sua saúde, sejam eles físicos ou mentais.

Esquecer de cuidar da saúde talvez seja o maior dos erros. Afinal, só lembramos o quão ela é importante quando a perdemos.

Penso, logo corro.

sábado, 21 de julho de 2012

Mudando de fase


Daqui alguns poucos dias completarei 30 anos de vida.

Tenho refletido bastante sobre essa mudança decenal, e cheguei à conclusão de que é sim algo especial.

De fato, na prática não passa de apenas mais um ano de vida. Na teoria, contudo, é muito mais denso, mais significativo.

"Lembro quando eu fiz 30 anos..." - direi um dia num futuro nem tão distante.

A verdade é que esse negócio de trocar de década faz qualquer um pensar sobre a vida. 

É mais ou menos como avançar de fase. Só não vou utilizar a expressão "jogo da vida" porque estou ficando velho, não brega.

Uma coisa que percebi nesse desenrolar dos anos é que as prioridades mudam vertiginosamente à medida que você vai envelhecendo. Chega a ser engraçado quando lembro das prioridades (nem tão prioritárias assim) de outrora.

Interessante que os 30 anos - idade cheia - parecem dar mais respaldo a essa coisa chamada experiência. É como se tivesse mais propriedade para invocar essa característica, algo inimaginável nos 20 anos.

Claro que tudo não passa de uma questão de perspectiva, afinal, alguém na casa dos 40 deve sentir angústia ao ler este texto - ou não, como diria Caetano.

No fim das contas, é só mais uma vela no bolo, mais um inverno, mais um ano de vida...

De qualquer forma, 30 anos aí vamos nós!

sábado, 23 de junho de 2012

Argumentos por escrito

Foto: blog42195.blogspot.com


Sonhei esses dias que não sabia mais escrever, o suficiente para acordar em pânico.

Não que eu SAIBA escrever com letras garrafais e reluzentes, mas dá para o gasto (acho).

Meu "eu interior" nunca reclamou, pelo menos até agora. Talvez até a publicação deste texto sem eira nem beira.

A propósito, quem em sã consciência escreve "sem eira nem beira"?

Este texto começou tão insano que até lembrei de um amigo cujo nome vou preservar com o intuito de evitar possíveis represálias (http://coisasdemarco.blogspot.com.br/).

Mas voltando ao assunto (que assunto?), deve ser complicado deixar de fazer algo que você já gostou muito.

Se perdesse minha habilidade de escrever (habilidade?), teria que encontrar outro hobby, outra válvula de escape, outra arte igualmente aprazível.

Escrever, antes de tudo, é exercitar a mente. Usar a ferramenta mais importante do nosso corpo: o cérebro.

Não podemos esquecer que escrever é uma forma interessante de expressar sua opinião. São poucas as pessoas que têm coragem de emitir opinião sobre determinado assunto, sobretudo se valendo da escrita, que requer um pouco mais de esforço.

Sempre pensei (talvez por não ser bom nisto) que a falar é para os fracos. Prefiro os argumentos lançados no papel, construídos na solidão da relação homem-computador, que um dia já foi homem-máquina de escrever, homem-caneta etc.

Essa, claro, é a minha opinião. Alguns concordarão, muitos não.

Sempre foi assim e sempre será, e talvez seja justamente isso que dê graça a todo o processo da escrita.

Afinal, é discordando que crescemos, que evoluímos. Não concorda?

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Em uma outra estação...


Impulsivamente, acabei de decidir que não vou mais escrever romances.

Não quero mais brincar dessa coisa de ser escritor. Simplesmente, enchi o saco. 

Muito trabalho para pouco reconhecimento. 

Não vou nem entrar no campo do retorno financeiro, até porque isso é algo que não existe nesse ramo; pelo menos para os mortais.

A verdade é que se eu dependesse da venda dos meus livros para sobreviver, estaria morto neste exato momento.

Isso porque nesses quase dois anos de contrato, vendi apenas uns trezentos e poucos exemplares - um pouco mais do que o número de páginas do meu livro.

Não acredito que a pequena quantidade de livros vendidos tenha relação direta com a qualidade da obra, mas com a falta de divulgação, publicidade, etc. 

Sei que não posso desanimar, mas desanimei com "D"maiúsculo e em caixa alta.

Vender pouco, infelizmente, é o maior dos desestímulos para um escritor.

Mas como posso cobrar de pessoas desconhecidas que comprem o livro se nem mesmo algumas que conheço o fazem?

A mistura muito trabalho + pouco reconhecimento é dura o bastante para me fazer desistir de romancear por mais duzentas e tantas páginas.

Talvez em uma outra estação. Talvez, eu disse.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Eterno esforçado...

Às vezes, quando leio um texto genial, pergunto-me aonde eu estava com a cabeça quando criei este blog e saí por aí distribuindo meus pensamentos a esmo.

Não raro, sinto-me indigno de disseminar textos e, por que não, minha forma (implícita) de pensar.

Afinal, não estar à altura daqueles que admiramos é, sem rodeios, deveras broxante. Quase triste. Uma lástima.

Do que me adianta um português honesto sem textos inspiradores?

Queria ter nascido com a sorte daqueles que possuem o dom, e não ser um eterno esforçado. 

Estar sempre em busca das palavras certas é extenuante, sobretudo quando o resultado costuma passar longe da intenção inicial que, inexoravelmente, é a perfeição: utópica por natureza.

Penso que os bons escritores repousam suas mãos sobre o teclado e deixam que estas façam o trabalho sujo, como se as ideias despejadas tivessem sido concebidas sem qualquer esforço.

Sejamos francos, escrever textos comuns, na melhor acepção desta palavra, é tarefa fácil. Nada que um pouco de repetição não resolva

Mas quantos textos honestos são necessários para que alcancemos outro patamar?

Talvez muitos. 

Talvez seja apenas perda de tempo.

sábado, 28 de abril de 2012

Mais do que silêncio


Foto: travetor.blogspot.com

Sobressalto talvez seja a palavra certa para descrever a forma como acordei. Minha primeira reação foi olhar para o relógio sobre a cabeceira que, impiedosamente, insistia em marcar 04:35 AM.

O frio, que não dava trégua, era tão angustiante quanto o sentimento que insistia em rasgar meu peito. Precisava tomar uma atitude, enfim, sair da inércia.

Já com o telefone em mãos, senti o coração pulsar numa velocidade próxima a de uma arritmia. Foi nesse exato momento que tive certeza de que aquilo que sentia era realmente forte. Realmente intransferível.

A cada toque, um suspiro. A cada suspiro, um toque.

- Alô - disse ela, ainda com a voz rouca por conta do sono interrompido.

Sua voz, embora charmosa o bastante para enlouquecer um homem, lembrou-me de que não havia pensado no que dizer; apenas deixei-me conduzir pelo momento.

Poderia ficar horas naquele telefone falando sobre meus sentimentos, sobre as noites mal dormidas, sobre as inquietudes que ela provocava no meu ser... Minha voz, contudo, como se quisesse contrariar os comandos pragmáticos do meu cérebro, insistia em não sair.

- Alooô - repetiu ela, agora esticando a letra "o".

Sua voz me fez tremer das cabeça aos pés. O problema era que eu precisava mais do que silêncio naquele momento.

- Seja quem for, é melhor falar de uma vez. Do contrário... - disse ela, agora em tom desafiador.

- Oi - falei, enfim.

Alguns segundos de silêncio se sucederam ao meu solitário cumprimento, o que só fez aumentar meu medo de rejeição. 

A minha primeira chance também poderia ser a última.

- Renato, é você? - perguntou-me ela.

Suspirei antes de responder afirmativamente.

- Aconteceu algo? 

- Sim... - disse-lhe. E nos 7 minutos seguintes passei a expressar todo meu ardor. Todo meu desejo. Todas as razões do meu desespero.

Pude sentir algo parecido com reciprocidade em sua voz, o suficiente para me deixar feliz. Naquela noite, ainda conversamos por mais duas horas antes de desligarmos. 

No dia seguinte, contudo, como se tudo não tivesse passado de um sonho, fui tratado com uma frieza surpreendente.

Interpretei tal gesto como se medo fosse. No mais, deixei a vida seguir o curso de outrora.

Não fiquei satisfeito, é verdade, mas tirei um peso enorme dos ombros. Afinal, sabia que havia feito minha parte.

Qual fosse o resultado, não dependia mais de mim. Nunca dependeu.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Pense antes de escrever

Foto: blogdocarlyto.com.br

Pergunto-me, às vezes, o porquê de tanta irritação nessas redes sociais.

Basta alguém publicar um comentário infeliz - algo corriqueiro nos dias de hoje - para que um desses esquentadinhos de plantão despeje toda sua ira.

Por que tanto ódio?

Também não concordo com muita coisa que leio (muita coisa mesmo), mas nem por isso fico arranjando confusão toda vez que acontece isso.

Quando leio algo do meu desagrado, e desde que desperte meu interesse, vou lá e faço um comentário educado a respeito. Discordando ou não, é sempre educado. Ponto.

Discordar xingando é, no mínimo, uma atitude idiota. E idiotas perdem a razão sempre, independentemente de qualquer coisa.

É compreensível que algumas pessoas sejam explosivas por natureza, mas é preciso pensar antes de agir.

No mundo virtual, diferente da vida real, não dizemos as coisas e elas são simplesmente publicadas. Antes, temos que escrever a frase e apertar a tecla enter. Nesse interregno, temos tempo suficiente para pensar bastante. Ou não?

E não são apenas as besteiras ditas. Muitos parecem esquecer a incrível  e veloz repercussão do que é dito no mundo digital.

Ao expressar algo para 700 pessoas (ou mais), você, no mínimo, deve imaginar que existem opiniões discordantes/conflitantes

A menos, claro, que você seja do tipo que acha que sua opinião deve sempre prevalecer. Nesse caso, não há salvação. Até porque ainda não inventaram um remédio para burrice. 

Tudo isso me leva à seguinte conclusão: se você não faz o tipo ponderado, pense bem antes de escrever uma crítica ou algo potencialmente ofensivo.

Afinal, por mais que você tenha razão (ou não), ela pode se virar contra você.

Pense nisso.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Faculdades literais

Foto: mercadomineiro.com.br

Imaginem, apenas por alguns segundos, se as faculdades atualmente disponíveis no mercado fossem literais.

Na minha visão, as coisas seriam mais ou menos assim...

A faculdade de Economia ensinaria o sujeito a guardar dinheiro, nada mais do que isso. Seriam os profissionais mais mesquinhos do mercado, cuja única preocupação seria poupar o máximo de dinheiro possível.

Os Bacharéis em Direito, após formados, teriam que fazer tudo direito, sem exceção. Se fizessem uma única coisa errada na vida, como comer nescau de colher, seriam presos sem direito a regressão de regime.

Os Engenheiros Mecânicos, por sua vez, viveriam em eterno conflito pessoal, porquanto sempre se perguntariam: sou engenheiro ou mecânico, afinal?

Contadores seriam aqueles profissionais que contrataríamos apenas nas horas difíceis, como na morte de um ente querido. Bastaria contratar o serviço do contador e ele se incumbiria de "contar" aos demais parentes e amigos que "fulano(a) subiu no telhado".


A faculdade de Engenharia Elétrica, doutro norte, formaria engenheiros ansiosos, profissionais hiperativos. Com o perdão do trocadilho, engenheiros elétricos.


Engenheiros químicos teriam por objeto de estudo apenas os banheiros químicos. Passariam os cinco anos de faculdade tentando melhorar a qualidade daqueles banheiros imundos.

Os profissionais licenciados em História seriam indispensáveis para as crianças, sobretudo na hora de dormir. Ou quando você precisasse contar alguma mentira para alguém.

A faculdade de Artes seria uma boa pedida para aqueles que não viveram a infância a contento. Durante o curso, você teria licença para fazer todo tipo de arte, como pintar as paredes da sua casa com caneta hidrocor, esvaziar os pneus do carro do vizinho, apertar o interfone alheio e sair correndo, etc. 

Enfermagem, por fim, ensinaria-o a ficar enfermo, para o caso de querer se esquivar de algum compromisso específico.

Enfim, penso que as coisas seriam mais ou menos assim se as faculdades fossem realmente literais.

Ps. Expresse o que você achou do texto clicando nos quadradinhos abaixo.

Aquele abraço!