terça-feira, 27 de outubro de 2020

Às vezes a gente acerta

Recentemente, resolvi mudar de cidade.

Nada que pessoas comuns não façam vez ou outra, certo?

Ainda assim, uma decisão bastante ousada, sobretudo se levarmos em consideração que morava na mesma cidade há exatos 22 anos.

Opinião precipitada e irrelevante de terceiros à parte, o fato é que já vinha pensando no assunto há alguns bons meses. 

Certas coisas, porém, como não conseguir vender o apartamento, acabavam atrapalhando os planos.

Tinha o maldito fator comodidade também. 

Por que, afinal, alguém confortavelmente instalado como eu venderia tudo e arriscaria a sorte em uma cidade vizinha? 

"Seria mais fácil fazer como todo mundo faz, sem sair do sofá, deixar a Ferrari pra trás" (Gessinger; dois mil e alguma coisa).

Convenhamos que a vida é curta demais para comermos sempre as mesmas comidas; frequentarmos sempre os mesmos bares; caminharmos sempre nas mesmas ruas; viajarmos sempre aos mesmos destinos.

Partindo dessa premissa, certas coisas não só podem como devem ser mudadas de lugar vez ou outra.

Uma convergência de fatores, como finalmente conseguir vender o apartamento, passar a trabalhar sob regime de home office parcial e amar uma mulher que mora justamente na cidade para a qual me mudei, obviamente, foram determinantes para, enfim, executar a operação "mudança de CEP".

Definitivamente, não tinha como ser mais propício.

Então, de mala e cuia (e catiora), mudei-me para a vizinha Criciúma/SC.

Tinha comigo que gostaria e muito de morar aqui, especialmente em razão das comodidades inerentes a uma "cidade maior". 

Ter tudo ao seu alcance é bem interessante, para dizer o mínimo.

Tanto que, com exceção do friozinho habitual que uma mudança dessa magnitude nos provoca, vim de peito aberto, sem sequer olhar para trás.

Não olhar para trás, aliás, foi um dos motivos que me levaram a tal decisão.

Nada, nada, nada como um encerramento completo de ciclo para dar início a uma vida nova.

Como se um carro com motor retificado fosse, voltei a acelerar.

E digo-lhes, sem qualquer medo de errar, que, mesmo morando aqui há pouco tempo - um mês, para ser mais preciso -, tomei a decisão mais acertada possível.

Incrível quando a vida nos confirma que tomamos a decisão certa, não?

Felizmente, às vezes a gente acerta também.

Parece ter sido o caso.

sábado, 3 de outubro de 2020

Velocidade 37

Só quem trabalhou durante a faculdade sabe como a tarefa é extenuante.

Conciliar estudos e trabalho, definitivamente, não é para os fracos, especialmente se você levar ambos a sério.

Quando você mora longe da Universidade, então...

Levava cerca de uma hora e quinze de onde morava até a Universidade. Uma hora e quinze!

E, por mais que existam pessoas que façam um esforço muito maior - pedalar quilômetros, pegar dois barcos, etc -, uma hora e quinze de ida mais uma hora e quinze de volta continua sendo tempo demais para um homem médio como eu.

Canso só de lembrar.

Lembro-me, também, de que com o avançar da faculdade, na tentativa amenizar esse cansaço, eu e alguns colegas resolvemos ir de carro em alguns dias da semana. Geralmente, no dia do estágio obrigatório, que, via de regra, fazíamos na sexta.

Com o passar do tempo, acabamos criando o hábito de beber no carro durante a volta.

Parávamos em praticamente todas as conveniências espalhadas pelo caminho.

Isso mesmo, voltávamos da faculdade bebendo uma birita durante o trajeto.

Menos o motorista, claro. Será? Fica a dúvida.

O hábito em questão, que, provavelmente, deve ter sido ideia minha (risos), acabou tornando o longo percurso faculdade-casa bem mais leve.

No mínimo, mais divertido.

Além do que, sob essas condições, aquela hora e quinze parecia passar bem mais rápido do que o habitual. 

Parafraseando Zé Ramalho, "Einstein explica".

Outro hábito que criamos - este, tenho certeza, iniciado por mim - era tentar passar nas infinitas lombadas eletrônicas distribuídas pelo caminho a exatos 37 km/h.

Sei lá de onde tirei essa ideia (tédio, talvez), mas o fato é que tentava passar a 37 km/h em todas as lombadas.

E isso, por mais bobo que soe, era divertido. Até porque, eu era particularmente bom nisso, o que não é muito comum.

Nunca contei isso para ninguém, mas, mesmo tendo se passado 13 anos desde então, ainda hoje, não resisto ao "desafio" de tentar passar a 37 km/h nas lombadas eletrônicas da vida.

Por que continuo fazendo isso? Não sei.

O que eu sei é que, sempre que consigo tal façanha - que, convenhamos, de façanha não tem nada -, abro um largo sorriso.

E, claro, lembro desses raros momentos de felicidade que a faculdade me proporcionou.

Daquele tempo em que dávamos uma breve pausa na correria  do dia a dia para vencer as lombadas em relativa baixa velocidade.

Em exatos trinta e sete quilômetros por hora. 

Nem mais, nem menos.