sábado, 28 de abril de 2012

Mais do que silêncio


Foto: travetor.blogspot.com

Sobressalto talvez seja a palavra certa para descrever a forma como acordei. Minha primeira reação foi olhar para o relógio sobre a cabeceira que, impiedosamente, insistia em marcar 04:35 AM.

O frio, que não dava trégua, era tão angustiante quanto o sentimento que insistia em rasgar meu peito. Precisava tomar uma atitude, enfim, sair da inércia.

Já com o telefone em mãos, senti o coração pulsar numa velocidade próxima a de uma arritmia. Foi nesse exato momento que tive certeza de que aquilo que sentia era realmente forte. Realmente intransferível.

A cada toque, um suspiro. A cada suspiro, um toque.

- Alô - disse ela, ainda com a voz rouca por conta do sono interrompido.

Sua voz, embora charmosa o bastante para enlouquecer um homem, lembrou-me de que não havia pensado no que dizer; apenas deixei-me conduzir pelo momento.

Poderia ficar horas naquele telefone falando sobre meus sentimentos, sobre as noites mal dormidas, sobre as inquietudes que ela provocava no meu ser... Minha voz, contudo, como se quisesse contrariar os comandos pragmáticos do meu cérebro, insistia em não sair.

- Alooô - repetiu ela, agora esticando a letra "o".

Sua voz me fez tremer das cabeça aos pés. O problema era que eu precisava mais do que silêncio naquele momento.

- Seja quem for, é melhor falar de uma vez. Do contrário... - disse ela, agora em tom desafiador.

- Oi - falei, enfim.

Alguns segundos de silêncio se sucederam ao meu solitário cumprimento, o que só fez aumentar meu medo de rejeição. 

A minha primeira chance também poderia ser a última.

- Renato, é você? - perguntou-me ela.

Suspirei antes de responder afirmativamente.

- Aconteceu algo? 

- Sim... - disse-lhe. E nos 7 minutos seguintes passei a expressar todo meu ardor. Todo meu desejo. Todas as razões do meu desespero.

Pude sentir algo parecido com reciprocidade em sua voz, o suficiente para me deixar feliz. Naquela noite, ainda conversamos por mais duas horas antes de desligarmos. 

No dia seguinte, contudo, como se tudo não tivesse passado de um sonho, fui tratado com uma frieza surpreendente.

Interpretei tal gesto como se medo fosse. No mais, deixei a vida seguir o curso de outrora.

Não fiquei satisfeito, é verdade, mas tirei um peso enorme dos ombros. Afinal, sabia que havia feito minha parte.

Qual fosse o resultado, não dependia mais de mim. Nunca dependeu.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Pense antes de escrever

Foto: blogdocarlyto.com.br

Pergunto-me, às vezes, o porquê de tanta irritação nessas redes sociais.

Basta alguém publicar um comentário infeliz - algo corriqueiro nos dias de hoje - para que um desses esquentadinhos de plantão despeje toda sua ira.

Por que tanto ódio?

Também não concordo com muita coisa que leio (muita coisa mesmo), mas nem por isso fico arranjando confusão toda vez que acontece isso.

Quando leio algo do meu desagrado, e desde que desperte meu interesse, vou lá e faço um comentário educado a respeito. Discordando ou não, é sempre educado. Ponto.

Discordar xingando é, no mínimo, uma atitude idiota. E idiotas perdem a razão sempre, independentemente de qualquer coisa.

É compreensível que algumas pessoas sejam explosivas por natureza, mas é preciso pensar antes de agir.

No mundo virtual, diferente da vida real, não dizemos as coisas e elas são simplesmente publicadas. Antes, temos que escrever a frase e apertar a tecla enter. Nesse interregno, temos tempo suficiente para pensar bastante. Ou não?

E não são apenas as besteiras ditas. Muitos parecem esquecer a incrível  e veloz repercussão do que é dito no mundo digital.

Ao expressar algo para 700 pessoas (ou mais), você, no mínimo, deve imaginar que existem opiniões discordantes/conflitantes

A menos, claro, que você seja do tipo que acha que sua opinião deve sempre prevalecer. Nesse caso, não há salvação. Até porque ainda não inventaram um remédio para burrice. 

Tudo isso me leva à seguinte conclusão: se você não faz o tipo ponderado, pense bem antes de escrever uma crítica ou algo potencialmente ofensivo.

Afinal, por mais que você tenha razão (ou não), ela pode se virar contra você.

Pense nisso.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Faculdades literais

Foto: mercadomineiro.com.br

Imaginem, apenas por alguns segundos, se as faculdades atualmente disponíveis no mercado fossem literais.

Na minha visão, as coisas seriam mais ou menos assim...

A faculdade de Economia ensinaria o sujeito a guardar dinheiro, nada mais do que isso. Seriam os profissionais mais mesquinhos do mercado, cuja única preocupação seria poupar o máximo de dinheiro possível.

Os Bacharéis em Direito, após formados, teriam que fazer tudo direito, sem exceção. Se fizessem uma única coisa errada na vida, como comer nescau de colher, seriam presos sem direito a regressão de regime.

Os Engenheiros Mecânicos, por sua vez, viveriam em eterno conflito pessoal, porquanto sempre se perguntariam: sou engenheiro ou mecânico, afinal?

Contadores seriam aqueles profissionais que contrataríamos apenas nas horas difíceis, como na morte de um ente querido. Bastaria contratar o serviço do contador e ele se incumbiria de "contar" aos demais parentes e amigos que "fulano(a) subiu no telhado".


A faculdade de Engenharia Elétrica, doutro norte, formaria engenheiros ansiosos, profissionais hiperativos. Com o perdão do trocadilho, engenheiros elétricos.


Engenheiros químicos teriam por objeto de estudo apenas os banheiros químicos. Passariam os cinco anos de faculdade tentando melhorar a qualidade daqueles banheiros imundos.

Os profissionais licenciados em História seriam indispensáveis para as crianças, sobretudo na hora de dormir. Ou quando você precisasse contar alguma mentira para alguém.

A faculdade de Artes seria uma boa pedida para aqueles que não viveram a infância a contento. Durante o curso, você teria licença para fazer todo tipo de arte, como pintar as paredes da sua casa com caneta hidrocor, esvaziar os pneus do carro do vizinho, apertar o interfone alheio e sair correndo, etc. 

Enfermagem, por fim, ensinaria-o a ficar enfermo, para o caso de querer se esquivar de algum compromisso específico.

Enfim, penso que as coisas seriam mais ou menos assim se as faculdades fossem realmente literais.

Ps. Expresse o que você achou do texto clicando nos quadradinhos abaixo.

Aquele abraço!