quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O sapato caramelo

João precisava comprar um sapato novo para ir ao baile anual que ocorreria na cidade naquela noite.

Assim, dirigiu-se até a única loja de sapatos da pacata cidade.

Lá chegando, começou a ver os sapatos que a atendente lhe trazia. Pretos, marrons, cinzas, enfim, de todas as cores e estilos.

Até que João viu um sapato caramelo dentro de uma redoma de vidro. Curioso, perguntou à atendente:

- E aquele sapato caramelo?

- Aquele sapato não é para o senhor...

- Por que não? - insistiu João.

- Ele é um sapato muito especial. Não que o senhor não mereça um sapato especial, mas porque ele é extremamente caro.

- Quanto custa?

- R$ 4.500,00, senhor.

João ficou intrigado com o sapato. Não sabia exatamente o motivo, mas achou que deveria comprá-lo a todo e qualquer custo.

- Traga-o até aqui - ordenou João. - Vou comprá-lo!

Após titubear um pouco, a atendente trouxe o sapato caramelo até João, tudo é claro sob o olhar atento de todas as pessoas que se encontravam na loja.

De imediato, começou um burburinho. Todos na pacata Cidade sabiam o preço exagerado do sapato.

João analisou o sapato por todos os ângulos possíveis. Era um sapato muito bonito, era verdade, mas ainda sim parecia apenas um sapato. Nada mais, nada menos. Apenas um sapato.

Pensou que era muito dinheiro por um pedaço de couro. No entanto, acabou gostando das atenções que voltaram para si desde o momento que pegara o sapato caramelo em mãos.

- Vocês aceitam cheque? - perguntou ele todo confiante.

- Claro.

Após o pagamento, João saiu da loja todo contente.

Parecia que toda a Cidade já sabia do ocorrido, eis que todos o olhavam diferente. Era como se carregasse ouro dentro daquela sacola plástica.

Chegou, enfim, a noite. E com ela o baile tão esperado por João.

Quando pisou com o sapato caramelo no salão, a banda parou o baile. Todos, invariavelmente, olharam para seu sapato, e somente depois para seu rosto.

Durante toda a noite, bebeu das melhores bebidas e dançou com mulheres que, em condições normais de pressão e temperatura, jamais lhe dariam a mínima atenção.

João era a estrela da noite. Ele e seu sapato caríssimo.

No final da festa, após ter arrebanhado quase uma dúzia de mulheres, avistou a atendente da loja de sapatos parada próximo ao bar.

Dirigiu-se até ela.

- Posso lhe perguntar uma coisa? - perguntou à atendente.

- Você já está perguntando - respondeu.

- Qual o segredo deste sapato, afinal? O que ele tem de tão especial?

- Ele é bem caro - respondeu a atendente

João não estava entendendo aonde ela queria chegar. Então, perguntou-lhe:

- Só porque ele é caro, quer dizer que ele é bom?

- Na verdade, não. Mas todos na Cidade sabem que ele é caro. Então...

João coçou a cabeça

- Então é por isso que todos estão me tratando bem? - perguntou ele meio que de forma retórica.

- Claro - respondeu a atendente. - Ou você achou isso só porque ele era caramelo?


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