quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Fogo amigo

Foto: vida-radical.planetaclix.pt

Gilberto subiu as escadas de sua casa com o revólver calibre 38 em punhos. 

Embora nunca houvesse utilizado aquela arma, assim como qualquer outra, sabia que em alguns instantes faria seu primeiro disparo.

Fazia uns quatro ou cinco meses que estava desconfiado de sua esposa. Tinha quase certeza de que ela estava traindo-lhe com Rafa, o lateral esquerdo do seu time de futebol.

Atacante nato que era, Gilberto pensou que a melhor saída seria desmascará-la e acabar com o safado. Afinal, o lateral esquerdo do seu time não poderia, em hipótese alguma, humilhá-lo daquela forma. 

Não um lateral como ele...

Gilberto costumava chamar Rafa de "Faceirinho", porquanto este gostava de avançar rumo ao gol e, quase sempre, deixava a defesa desguarnecida, daí o apelido.

O Faceirinho, no entanto, estava com os dias contados. Dias, não. Mas os minutos, quiçá os segundos.

Nervoso com sua atitude, Gilberto parou no corredor que dava acesso ao seu quarto, que, até pouco tempo atrás, imaginava ser apenas seu e de sua esposa.

Nesse momento, lembrou das indiretas proferidas pelos colegas de time no vestiário. Esta, aliás, foi a forma como descobriu que sua esposa era uma adúltera.

Após alguns minutos no corredor, havia chegado, enfim, a hora de vingar-se. Lenta e silenciosamente, deslocou-se até a porta do quarto. 

Mesmo com a porta fechada, podia ouvir os gemidos insanos de sua esposa, o que o deixou ainda mais irritado.

Então, com a maior fome de vingança que um homem pode ter, chutou a porta do quarto com toda sua força e apontou a arma para a cama.

Precisava acabar com aquilo de uma vez, pois somente desta forma mostraria para seus colegas quem era  Gilberto de Andrade.

Quando olhou para a cama, contudo, tomou um baita susto.

- Rodolfo?! - gritou Gilberto. - Mas o que é isto?

Seus olhos não acreditavam naquilo que estava vendo. Era Rodolfo, zagueiro e capitão do seu time, quem se refestelava com sua mulher, e não o faceirinho - o lateral esquerdo.

Extremamente desapontado, Gilberto baixou a arma e saiu do quarto. Em seguida, disse para si mesmo com a voz embargada:

- Isso não é coisa de capitão. Não mesmo...



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