quinta-feira, 24 de março de 2011

Chimarrão a dois...

Foto: naneartesanatos.blogspot.com


Quando eu tinha 15 anos (em 1997), ainda morava em Porto Alegre.

Estudava no Colégio Dom Bosco, no período matutino. Assim, precisava acordar cedo para pegar o ônibus e me deslocar até o bairro Higienópolis todo santo dia. Para um adolescente, um verdadeiro martírio.

Após descer do ônibus, precisava caminhar mais uns 500 metros. Mesmo preocupado com assaltos e com as notas baixas, acabei percebendo algo diferente no trajeto até o colégio. Algo que me chamou a atenção.  

Todos os dias, invariavelmente, via em determinado apartamento um casal de idosos tomando chimarrão na sacada. Com um sorriso estampado no rosto, pareciam deliciar-se com a situação.

Não importava a temperatura ou as condições climáticas. O casal sempre estava lá naquela fria sacada... Sempre!

Se não me engano, eles até cumprimentavam os jovens estudantes que, assim como eu, detestavam estar ali naquela altura da manhã.

Lembro que olhava para eles com raiva. Por que não dormem até mais tarde?, perguntava-me em pensamento todos os dias ao vê-los sentados junto à sacada.

Naquela época, era difícil para mim enxergar a vida com a mesma visão de hoje. Jamais entenderia os motivos que levavam aquele casal a agir de tal maneira.

Hoje, no entanto, consigo enxergar as coisas sob outro prisma.

Percebo que o aquele casal nada mais fazia do que aproveitar a vida. Eles devem saber melhor do que eu o quão ela passa depressa.

Como disse outro dia (clique aqui para ler o texto), cheguei à conclusão que quanto mais dormimos, mais desperdiçamos nossas vidas.

Talvez não seja este o verdadeiro motivo que os faz levantar cedo, mas parece-me bastante razoável para alguém cuja expectativa de vida vai diminuindo a cada dia.

Ao sentarem-se junto à sacada, estavam apenas vivendo. Usufruindo o descanso merecido de uma vida inteira de luta. Ou não.

Se eu não morasse tão longe (aproximadamente 326 Km), talvez me deslocasse até lá para ver se ainda cumprem o mesmo ritual de outrora.

Seria o máximo revê-los sentados na sacada com aquela cuia em mãos...

Mas será que ainda estão vivos? Ou casados?

Ainda naquela época, prometi a mim mesmo que um dia faria o mesmo.

Vingança? Talvez...

De qualquer forma, será um prazer descobrir o porquê daquele comportamento surreal...

Se tudo der certo, um dia eu chego lá... 

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