quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Todos sairemos derrotados



Foto: radiosociedadeam.com.br


O time estava afundando. Fazia impressionantes 17 rodadas que não ganhava uma única partida.

Para piorar a situação, precisava vencer o último jogo do campeonato pela diferença de dois gols para não ser rebaixado.

O time, que até então era considerado um dos grandes do futebol brasileiro, jamais havia passado por tamanho vexame.

Como se não pudesse ficar pior, o adversário do último e derradeiro jogo era seu maior rival e líder do campeonato. Favorito absoluto, bastava um empate ao rival para que se sagrasse campeão. Um mero empate em seus domínios.

Desesperado com a iminência do rebaixamento, o presidente do time resolveu apelar.

Contratou ninguém mais ninguém menos do que Jackson, um antigo craque da equipe que, uma semana antes, estava relegado ao esquecimento em um clube da terceira divisão do campeonato brasileiro.

A torcida entrou num profundo estado de euforia quando do anúncio da contratação de Jackson, porquanto este, mesmo no auge dos seus 37 anos, seria o único jogador capaz de fazer seu time escapar do rebaixamento. 

Além do mais, os vários técnicos que haviam dirigido o time naquela fatídica temporada haviam escalado mais de 42 jogadores diferentes. Contudo, nenhum daqueles jogadores possuía o prestígio do novo-velho atacante.

Quando as equipes perfilaram-se à beira do gramado antes do jogo, todos os olhares estavam voltados para Jackson, a grande esperança do time que não vencia há 17 rodadas.

O comentarista mais famoso do país, eufórico, afirmava com toda convicção que Jackson iria relembrar as glórias do passado e anotar os dois gols necessários. Afinal, o atacante havia nascido para vestir aquela camisa.

Até mesmo Jackson deixou-se levar pela euforia da torcida, tendo quase certeza de seu triunfo.

As lesões incessantes, os times pequenos pelos quais vinha atuando nos últimos anos, nada mais importava. Assim que vestiu a camisa sagrada do time de onde nunca deveria ter saído, sentiu que tudo voltara ao normal.

No primeiro pique de Jackson rumo ao gol, no entanto, o atacante sentiu uma fisgada violenta romper-lhe o músculo da coxa esquerda.

Era o fim da carreira do jogador.

A dor particular do atacante traduzia com propriedade o sentimento geral da torcida, que assistia a tudo impávida.

Sem Jackson, somente um milagre salvaria a equipe. 

90 minutos mais tarde, o placar eletrônico do estádio mostrava que o time de Jackson havia perdido para seu maior rival pelo humilhante escore de 6 x 0.

Naquele dia, os torcedores do time aprenderam uma lição importante: milagres existem, mas são tão raros quanto ganhar na loteria.

Certas coisas são tão lógicas que nem mesmo o maior dos esforços é capaz de mudar aquilo que está praticamente consumado.

A verdade é que, nos dias de hoje, não há mais espaço para a inocência. Não mesmo.

Quer se dar bem na vida?

Preveja jogadas, antecipe os lances e, acima de tudo, saiba reconhecer a derrota. Afinal, quando menos esperamos, é a nossa vez de sofrermos um revés.

Uma hora ou outra, todos sairemos derrotados. Todos.

Um comentário:

Marco disse...

Jackson Gabirú? heheh ótimo texto!!