domingo, 18 de dezembro de 2011

A mulher do Souza


Foto: gartic.uol.com.br


Inconveniente talvez era o adjetivo que melhor definia Rosi - a mulher do Souza.

Souza era o centroavante, o goleador. Mas nem por isso escapava ileso dos comentários ardilosos dos outros jogadores do time.

Todos, sem exceção, achavam Rosi, sua esposa, uma Chata, com "C" maiúsculo e tudo mais.

Adilson, volante sisudo que era, costumava dizer no vestiário (quando o atacante não estava) que Rosi deveria ser uma mulher fenomenal na cama, já que era deveras insuportável fora dela.

Até que um dia, para espanto geral do vestiário, Adilson resolveu interpelar o colega de time:

- Desculpe-me, Souza, mas preciso te perguntar uma coisa...

Os meio-campistas do time, incluindo os reservas, levantaram os olhos aparvalhados. Não estavam acreditando na ousadia do beque central.

- Pergunte - respondeu Souza.

- A verdade é que... - balbuciou Adilson, titubeante.

- Fala, homem! - bradou o centroavante.

- Com todo o respeito, mas todos nós achamos sua mulher uma baita chata. Como você aguenta ela, afinal?

Até o técnico do time arregalou os olhos. Aparentemente, Adilson havia ido longe demais com sua pergunta nada discreta.

Souza, no entanto, deu um sorriso largo e faceiro. Em seguida, respondeu:

- Meus amigos... Admito que ela é um pouco chata, mas ela faz um "lexco-lexco" sensacional! S-E-N-S-A-C-I-O-N-A-L! Se vocês soubessem...

Todos os companheiros do time, agora incluindo a comissão técnica, suspiraram. Além de linda, Rosi fazia um "lexco-lexco"como ninguém. Como mágica, a pena que sentiam do centroavante transformou-se em inveja.

Naquela noite, de tão desconcentrado, o time levou uma sonora goleada, o suficiente para que perdessem a tão sonhada vaga na libertadores. 

Todos os jogadores passaram os 90 minutos pensando no "lexco-lexco" da Rosi. O "lexco-lexco" que ela fazia deveria mesmo ser uma loucura. Um disparate. 

Desanimado com a perda da vaga que elevaria o time a outro patamar no cenário internacional, Souza foi para casa choroso.

Lá chegando, foi surpreendido pela esposa, que miou no seu ouvido como uma gata:

- Amooooor... Quer um "lexco-lexco", agora?

- Claro que sim, minha linda - respondeu Souza, sedento.

Rosi, então, foi até a cozinha e voltou com uma panela fumegante entre as mãos.

- Não fica triste com o jogo, não. Para compensar a derrota, fiz o melhor refogado da sua vida - disse-lhe a esposa, orgulhosa, com a panela cheia do famoso "lexco-lexco".

- Ah, se eles soubessem o quanto é bom esse "lexco-lexco" - falou Souza, agora com um sorriso estampado no rosto. - Ah, se eles soubessem... 

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