terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Flocos, nunca mais!


- Não o amo mais - disse ela de forma seca e inesperada.

João quase se afogou com o sorvete de flocos ao ouvir as duras palavras que saíram da boca de sua noiva.

- Que brincadeira de mau gosto é essa, Sandra? - perguntou ele, nervoso.

Sandra, contudo, não esboçou qualquer reação que indicasse estar brincando. Mais do que inerte, era a própria definição da palavra impávida.

- É sério, Sandra. Que brincadeira é essa?

- Não estou brincado - respondeu ela, enfim.

João conhecia sua noiva como ninguém - ou pelo menos era nisso que acreditava até aquele momento -, de modo que sabia que ela, definitivamente, não estava brincando. Largou o sorvete.

- Aconteceu alguma coisa? - perguntou-lhe o noivo. - Seja o que for, podemos resolver...

Sandra, porém, retirou parte da franja que lhe cobria os olhos e disse friamente:

- A verdade é que não o amo mais. Só isso.

- Como assim só isso, Sandra? Não sei se você se lembra, mas nós vamos nos casar daqui a três dias. Três dias... Tá lembrada?

- Não vai mais haver casamento - disse Sandra antes de dar um sorriso tão irônico que até mesmo Leonardo da Vinci seria incapaz de reproduzi-lo.

Uma lágrima rolou pelo rosto de João sem piedade. Depois outra. Em seguida, um balde delas.

- POR QUÊ??? - voltou a perguntar João, agora aos berros. - O que foi que eu fiz, afinal?

Sandra sorriu, agora com mais ênfase.

- Por que você está sorrindo, sua maluca? Eu não fiz nada!

- É exatamente esse o seu problema João. Você nunca faz nada. N-A-D-A! - repetiu ela de forma pausada e em letras garrafais.

- Você está sendo injusta comigo! Eu sempre dei o meu melhor...

- Injusta nada - disse ela. - A única coisa que você sabe fazer direito nesta vida é comer sorvete de flocos. Aliás, não aguento mais vê-lo comendo sorvete de flocos. Não aguento mais!

Inconsolável, João foi para sua casa soluçante. Precisava ficar sozinho.

Assim que entrou em sua residência, jogou-se sobre o sofá. Precisava pensar numa solução para o seu problema. Contudo, após muita reflexão, nada lhe veio à mente. Absolutamente nada.

João, então, levantou-se e caminhou em direção ao freezer. Abriu a porta retirou lá de dentro dois potes de sorvete: um de flocos, outro de morango.

Em seguida, com uma força quase sobre-humana, jogou o pote de flocos no lixo.

Enquanto voltava ao sofá com uma colher e o sorvete de morango em mãos, disse para si mesmo com uma convicção que jamais tivera antes em sua vida:

- FLOCOS, NUNCA MAIS! Nunca mais! 

Um comentário:

PERSEVERÂNÇA disse...

Acredita só tive olhos para o sorvete, rsss
Bjs