segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Reciprocidade

Todos os dias quando acordo, acontece a mesma coisa. Sempre.

Dirijo-me à cozinha e dou de cara com a minha catiora que, invariavelmente, está com aquela carinha do "gato de botas".

Aquela carinha de quem diz"tu não vai passear comigo seu filho da puta?" 

[Perdoem-me pelo palavrão, mas tentei ser o mais realista possível]

Prontamente, então, olho para ela e digo em voz alta (sim, eu falo com a minha cachorra): "Calma, lindinha, já vou passear contigo".

Digo isso e penso: Antes, contudo, vou tomar um café descansado. Eu mereço.

Mas a minha catiora sempre fica lá, junto à porta, me olhando com aquela carinha triste. Aquele semblante de cachorro abandonado.

Na clara tentativa de me chantagear, ela chega a virar a cabeça de lado. Juro.

E isso sempre faz com que eu sucumba ao desejo impulsivo do bichano. Em resumo, deixo o café de lado e lá vou eu passear com a catiora, com ou sem fome.

Há quem considere isso um ato de amor. Pode até ser.

Mas sempre penso que isso é uma prova cabal de que não estou pronto para ser pai. É que, se fizer isso com uma criança - realizar todos os seus desejos -, é certo que virará uma usuária de crack com 12 anos (risos).

Brincadeiras à parte, a verdade é que não resisto ao chorinho da minha catiora.

Então, nada me resta senão passear com ela pelos arredores do meu prédio logo cedo, o que é bem engraçado.

Afinal, não é muito comum um cara barbudo passear com uma cachorra peludinha e cheio de laços, sobretudo envolta por uma coleira rosa.

Tenho certeza que isso chama um pouco a atenção das pessoas.

Mas questão é que a cachorra me faz bem demais. DEMAIS.

E se passear logo cedo com ela, mesmo antes do café, é uma forma de retribuir todo esse bem, por que não o fazer?

No fim das contas, deveríamos reger nossas vidas assim: através da reciprocidade.

Simples assim.

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