segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Mais uma noite de terça...

Foto: 30ealguns.com.br

Estava angustiado ao extremo naquela tarde de terça. 

Soube no momento em que peguei a arma que faria uma bobagem das grandes.

Não queria acabar com a minha vida, mas com a dor que me impedia de viver; sentimentos que às vezes se confundem em pessoas como eu.

O uísque que ingeria simultaneamente, por incrível que pareça, não fomentava minha coragem, porquanto deixava meus sentimentos ainda mais sob a flor da pele.

Tentei ouvir uma canção, talvez a última de minha conturbada vida, na esperança de que facilitasse as coisas. Contudo, tudo que eu fazia me desencorajava.

As lembranças, os pensamentos, as fotos, tudo militava em favor da vida, menos eu.

O tempo foi passando em meio a tantas dúvidas. A verdade é que mais uma noite de terça insistia em nascer.

Mas eu não queria mais noites de terças, nem de quartas, nem de quintas, eu queria o nada, o vazio, aquilo que eu imaginava como sendo a morte.

Então, desesperado com a possibilidade da desistência, empunhei a arma como somente um algoz o faria. 

Pude sentir um sorriso espontâneo e malicioso manifestar-se no canto da minha boca - o sinal inequívoco de que a hora havia chegado.

Coloquei a arma na cabeça e respirei fundo. 

Puxo o gatilho ou não puxo?, pensei.

Foi nesse momento em que hesitei. E foi na hesitação que perdi aquilo que considero a maior das coragens: o ato de ceifar a própria vida.

Não bastassem os motivos que haviam me levado até aquela atitude desesperada, agora tinha que carregar comigo a humilhação inerente às pessoas que hesitam.

- Sou um fracasso total - disse para mim mesmo em voz alta.

Em seguida, guardei a arma. E com ela, guardei também a minha vontade de morrer.

Talvez numa outra terça, pensei. Numa outra terça... 

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