terça-feira, 9 de março de 2021

Maldita pontualidade britânica

Não precisa ser nenhum discípulo de Freud para saber que todos nós possuímos alguns traumas oriundos da infância.

"Experiências emocionais desagradáveis" que, invariavelmente, acabam influenciando nosso comportamento na fase adulta.

Um dos meus traumas - o que, aliás, constatei depois de muita reflexão - diz respeito à pontualidade. 

Mais precisamente, à falta dela.

Criança "emperebada" que era, costumava ir muito a médicos variados, que, por sua vez, atendiam em horários bastante conflitantes com minha deficitária agenda infantil

Como consequência, volta e meia, chegava atrasado na escola.

E eu odiava isso com todas as minhas forças

É que, como era muito tímido, não suportava o fato de chegar na escola no decorrer da aula, especialmente por conta do olhar vigilante e julgador dos coleguinhas malévolos de plantão.

Digo, pois, sem qualquer medo de errar, que esses atrasos inocentes me causaram uma espécie de trauma. 

Afinal, mesmo tendo se passado tantos anos desde então, ainda hoje, sou a pessoa mais pontual do mundo.

Do tipo que chega no local com antecedência mínima de 10 minutos (se for um evento informal, claro).

Ao que tudo indica, minha mente não está muito interessada em reviver a sensação que me acometia quando chegava atrasado na escola.

Pode parecer algo bobo não gostar de ser pontual.

Até porque, grande parte das pessoas acha que isso, na verdade, é uma baita qualidade.

Contudo, na prática, não é bem assim que as coisas funcionam.

O problema da pontualidade é que, via de regra, costuma ser uma via de mão única

Tanto que nem mesmo a empatia inerente ao ato de fazer com que outra pessoa não espere é capaz de impedir um atraso.

Na minha próxima vida, pois, quero ser aquele que não está nem aí para o horário marcado.

Mais do que isso, aquela pessoa desprendida ao ponto de sequer possuir um relógio.

Para quem o horário marcado, no fim das contas, não representa nada mais do que uma mera formalidade comumente ignorada.

E que ri descaradamente quando lhe cobram por ter se atrasado.

Enquanto isso não acontece, sigo com minha pontualidade britânica. 

E, antes de qualquer coisa, chateado por ter que ficar esperando - mais e mais - pelos outros que não possuem qualquer culpa pelos meus malditos traumas particulares.

Esperemos, então.

Esperemos.

Foto: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/talento-em-pauta/pontualidade-no-trabalho-e-suas-consequencias/

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