sábado, 3 de setembro de 2011

Será que teria dado certo?


Foto: fabmancuso.blogspot.com

Aquela segunda-feira tinha tudo para ser igual a todas as outras, não fosse pelo e-mail que Renata havia recebido há cerca de 15 minutos.

No corpo do e-mail havia apenas a pergunta:

- Será que teria dado certo?

Logo que colocou os olhos naquelas doces e ousadas palavras, soube instantaneamente quem as havia enviado. Com toda a certeza do mundo, era Sandro.

Renata, que era casada com Pedro há mais de 10 anos, ficou tremendamente assustada com aquela súbita lembrança. Ainda mais pelo fato de que o e-mail não trazia outras informações senão aquela fatídica frase.

Sandro, que também era casado há bastante tempo, havia sido seu amante quando jovens. Mantiveram um relacionamento proibido e apaixonado por quase dois anos, sem que seus cônjuges - à época, namorados - suspeitassem do relacionamento.

Estavam perdidamente apaixonados. Mais do que isso, amavam-se loucamente.

À época, chegaram a cogitar a possibilidade de ficarem juntos, mas, por motivos alheios às suas próprias compreensões, desistiram do enlace proibido e continuaram com seus antigos parceiros.

Isso porque, ao mesmo tempo em que sentiam uma sensação inexplicável, uma culpa sem igual corroía-lhes por dentro. Apesar dos pesares, ainda sentiam muito carinho por seus namorados, embora estes não lhes proporcionassem mais aquela felicidade toda de outrora

No entanto, ambos pensavam com frequência um no outro. Tentavam imaginar como teria sido se tivessem levado adiante a ideia de ficarem juntos.

Por isso aquela frase havia mexido tanto com Renata. 

Será que, mesmo depois de tantos anos sem falar com Sandro, este teria a intenção de reviver aqueles sentimentos tão antigos e preciosos.

Uma sensação inquietante tomou-lhe de assalto, o suficiente para respondesse o e-mail antes mesmo de lembrar-se que era casada.

Renata limitou-se a escrever:

Amanhã, às 21h, no restaurante Terraço Itália.
Com carinho, sua eterna Renata.

No outro dia, conforme combinado, Renata inventou uma desculpa qualquer para seu marido e produziu-se como nunca.

Mais do que pronta para o pecado, estava pronta para reviver uma grande história de amor. Queria sentir novamente aquelas sensações indescritíveis que lhe povoavam a memória. 

Chegou ao restaurante no horário combinado. Sentou-se junto ao bar ficou esperando por Sandro.

De repente, um homem senta ao seu lado e sorri.

- Oi, Renata! Lembra-se de mim? - pergunta ele.

Definitivamente, não era Sandro

Mas quem seria aquele homem?, indagou-se Renata em pensamento.

- Desculpe, mas não sei quem é você - respondeu ela após alguns segundos de consternação.

- Sou eu, o Alex. Do jardim de infância... Lembra?

Renata não estava acreditando naquilo que estava ouvindo. O homem que lhe enviara o e-mail era Alex, e não Sandro - seu antigo amor.

- O que você está fazendo aqui? - perguntou Renata.

- Sei que talvez seja um pouco tarde para dizer isto, mas sou completamente apaixonado por você. Desde o jardim de infância, não consigo pensar em outra mulher... Lembra que tínhamos uma conexão?

- Por Deus, homem! Nós éramos crianças - ponderou ela. - Nem me lembrava mais da sua existência.

- Mas...

- Mas, nada! - disse Renata. - Vou embora agora mesmo.

Levantou-se extremamente irritada com toda a situação. Se quisesse, podia matar um homem a arranhões, dado o alto nível de estresse que lhe tomava o corpo.

Contudo, não era mais a mesma mulher dos últimos anos. Aquele e-mail havia mesmo retirado-lhe o chão. Em outras palavras, estava fora de seu centro emocional.

Então, quando estava quase saindo do restaurante, um pensamento invadiu-lhe a mente, o bastante para que pedisse ao gerente que lhe emprestasse a lista telefônica. 

Foi logo na letra "S".

Mesmo que o e-mail não tivesse sido enviado por Sandro, aquela pergunta não saía de sua cabeça...

Afinal, será que teria dado certo?

- Não custa tentar - disse Renata para si mesma já com o telefone em punhos

- Não custa tentar...


Um comentário:

Fábio Caminski disse...

Parabéns pelo texto
Impressionante.